sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Discurso do Deputado Clodovil em Plenário 04/11/2008

Nota enviada :Bertha Pellegrino /RP .Gabinete Brasília
Transcrição:Taquigrafia da Câmara

O SENHOR PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Continuando o Grande Expediente, concedo a palavra ao segundo orador inscrito, o ilustre Deputado Clodovil Hernandes, do PR de São Paulo.
S.Exa. dispõe de 20 minutos na tribuna.

O SR. CLODOVIL HERNANDES (PR-SP. Sem revisão do orador.) –

Senhor Presidente, nobres Deputadas e Deputados, é uma grande honra falar para vocês através dessa mágica televisão da Câmara Federal — televisão, claro, não me mete medo, porque estou habituado a ela há muito tempo —, e é uma pena que eu tenha que fazer isso com o plenário quase vazio, não sei se por horário, não sei se por normas, não sei por quê.
Mas, em todo o caso, falo para vocês mesmo, que são o meu povo, porque, embora eu esteja no PR, e o respeite muito, e goste muito deles, porque me acolheram com muito afeto, o meu partido é o BR. Eu sou Brasil em todos os sentidos. Tanto que agora, na minha cidade, sendo do PR e tendo muitas ressalvas com o PT, com o qual já tive vários problemas, eu amparei o candidato do PT porque me parecia o mais honesto. É isto o que conta o que a pessoa é, e não o partido ao qual ela pertence.
Eu gostaria de não ser polêmico, e que não usassem esse adjetivo, mas não consigo deixar de ser, porque me incomoda muito essa coisa de ter sido eleito com tantos votos, por tantas pessoas que acreditaram em mim, a despeito de todos os meus trabalhos paralelos: a moda, o teatro, a música, a televisão. Esse povo acreditou em mim como Deputado, e é o que tenho tentado ser, embora eu não seja um Deputado — eu estou Deputado. Mas estou com a dignidade que eu aprendi na minha casa, com a família que me adotou e criou e com as coisas que aprendi na vida durante esses percalços todos: os erros, os acertos, os amigos, os inimigos, isso e aquilo.
Não tenho nenhuma dificuldade, nenhum problema de falar de improviso, embora o meu gabinete tenha escrito um discurso para mim. Por quê? Eu presto atenção nas coisas e presto atenção nas pessoas. Há algumas pessoas aqui pelas quais eu tenho verdadeira adoração. Isso me foi dito por um político antes de eu entrar aqui. Ele me disse: Você verá. Lá tem muita gente que não gosta nem de si mesma, quanto mais dos outros. Mas no meio dessa gente você encontrará pessoas da melhor qualidade, verdadeiros brilhantes, diamantes que estão nessa vida pública e que pouco podem fazer porque é muito grande o número de Deputados que nós temos aqui e é muito difícil porque, quando um diz sim, outro diz não, outro diz talvez, e assim vamos nós.
Eu sei que, como aconteceu 10 anos atrás, exatamente depois do Censo, que acontece no nono ano e será no ano que vem nós teremos uma população aumentada. O Brasil cresceu muito e crescerá sempre, assim espero e desejo, mas eu gostaria que este Brasil crescesse em todos os sentidos e que tivesse palavra, atitude, que se fizesse presente aqui dentro de qualquer maneira.
Eu sei que a Câmara dos Deputados é a Casa do povo, mas o povo não sabe onde é a Câmara dos Deputados, e a maioria nunca entrou nem entrará aqui. Mais do que isso, a maioria não sabe o que se faz aqui. Eu não posso dizer isso porque pelos corredores eu fotografo centenas de vezes por dia e dou muitos autógrafos e o meu gabinete é o mais visitado. Por quê? Porque eu sou o Clodovil da televisão, o estilista. Se eu fosse apenas Deputado, eu teria que andar com o bottom para ser reconhecido. Muita gente não é reconhecida neste País inteiro. Eu tenho a chance de ter feito a minha vida pública antes de estar aqui.
Portanto, quero estar aqui com honra, e é o que vou fazer de qualquer maneira. Por quê? Porque eu não faço questão nenhuma de ficar em lugar nenhum. Faço questão de retribuir às pessoas que me colocam nos lugares. Todas as vezes que fui mandado embora da televisão foi porque eu era contra os empregados que vilipendiavam a emissora. Acabou que eu tive que sair da televisão também, porque a televisão que eu fazia era para a sala de visita das famílias — para os pais, para os filhos —, e hoje em dia a televisão que se faz é uma televisão que vai direto para o banheiro, onde está a privada. Mulheres-melão, mulheres-melancia, sabe Deus que tipo de mulheres, uma avacalhação com a mulher e com a família, uma coisa absurda. Nós poderíamos acabar com isso, uma vez que convivêssemos bem e que todos se escutassem e estivessem aqui.
Eu sei que daqui a 2 anos haverá uma nova plêiade de Deputados. Parece que existe na lei nacional a proposta de aumento de Deputados cada vez que o país aumenta a sua população.
Imaginem vocês. Eu espero que um dos senhores apresente esse pedido de aumento do número de Deputados, porque eu já estou apresentando o meu pedido de diminuição do número de Deputados. É muito cacique para muito pouco índio.
Nós temos que pensar que o País é nosso. Nós somos o povo. Quando pomos os pés fora daqui, somos iguaizinhos ao Seu Mane, que tem uma lojinha não sei em que bairro e em que lugar. E essa coisa tonta da empáfia do poder, do cargo, essa coisa boba que algumas pessoas têm e fazem questão de exibir, termina ali na porta, porque elas terão os mesmos problemas que todos os brasileiros terão com um mau comando. Se não mudarmos esse comando, com certeza todos nós pagaremos um preço por isso. E muito caro nós vamos pagar.
É preciso diminuir não para prejudicar ninguém. É como se nós tivéssemos uma fábrica, nós tivéssemos muitos funcionários e nós estivéssemos com problema econômico. O que faria essa fábrica? Diminuiria a mão-de-obra, para que a mão-de-obra que ficasse categorizada trabalhasse muito mais.
Eu não tenho medo de trabalho. Ao contrário. Eu gosto muito de trabalhar, para não enlouquecer. Eu sei que o universo me deu o trabalho como a fonte de vida. Se nós não trabalhássemos, o mundo seria um horror. Nós encheríamos a cabeça de coisas inúteis e de porcarias, porque o cérebro desocupado é a residência do demônio mesmo.
Eu tanto penso nisso que me mudei para cá. Mudei para um apartamento, desses apartamentos que são do Governo. E o que eu fiz? Os senhores não sabem ainda, mas saberão em breve. Eu derrubei o apartamento inteiro por dentro e por fora, porque eu não gosto de coisa feia, não gosto de coisa ordinária. Eu jamais moraria num apartamento que estivesse fora daquilo em que estou acostumado a viver, a duras penas, com meu dinheiro e meu sacrifício. Claro que fui ajudado, mas a reforma que fiz eu paguei, assim como a do meu gabinete. Alguns criticaram, porque é mais fácil criticar quando alguém faz alguma coisa direita.
Toda mulher bonita neste País é vagabunda. Por quê? Porque não sabemos ver a beleza, não sabemos que a beleza é Deus.
E esse apartamento, que logo será de outro Deputado, e assim espero que seja, terei a honra de deixá-lo da mesma maneira que deixei todos os lugares por onde passei mesmo as casas alugadas, todo reformado, com banheiros, chão, paredes e divisão perfeitos, mesa de cristal de 20 milímetros e assim por diante. Por quê? Porque eu vou viver lá. Eu não posso viver em um lugar ruim. “Ah, mas você sabe que depois vai entregá-lo a outro Deputado.” Graças a Deus, vou deixar o lugar bonito para outro Deputado.
Se todos fizessem à mesma coisa, não teríamos esses prédios brasileiros caindo aos pedaços, cheios de piche — todos eles pichados —, enfim, essa coisa desrespeitosa que também existe aqui em Brasília. Era preciso que o povo vestisse realmente a camisa brasileira, porque tem muita gente que finge, põe uma camiseta verde-amarela, mas na verdade é só casca, como uma laranja podre, que tem casca, mas por dentro está apodrecida. Isso não resolve nada.
O que aconteceu na eleição passada? Na minha cidade, que é do que posso dizer, onde apoiei o candidato do PT, ele perdeu por quê? Porque o atual, que administra a cidade, que é uma cidade sofredora, porque é oprimida por muitas igrejas pequenas, as igrejas novas, esse homem que administra a cidade é de uma igreja nova. Ele deveria continuar na igreja e ser um comandante de pessoas dentro da igreja, que daria a ele dinheiro e a possibilidade dos poderes que eles se dão, das autoridades que eles se dão. Porque eles vendem Deus a preço de banana. Todos fazem isso. Lá seria um bom lugar para ele. Comandar uma cidade não é isso.
Ele é o dono de todos os jornais e de todas as emissoras, porque em 4 anos ele enriqueceu. É normal. E aí pegou um candidato que estava impugnado e o promoveu muito para que ele fosse o candidato concorrente. Resultado: os votos desse candidato foram zero, e ele atrapalhou a Oposição.
O candidato que eu estava apoiando que tem todos os meus votos e um pouco mais, não conseguiu vencer essa tramóia, porque isso não é uma coisa verdadeira. Um candidato impugnado não pode ser candidato. E o atual comandante fez com que o povo acreditasse que ele seria também um candidato à prefeitura. Onde nós vamos parar? Se daqui de cima não olharmos para baixo, não pusermos o dedo em riste e dermos as ordens que essas pessoas precisam ouvir e respeitar, daqui a pouco, estaremos abaixando a cabeça para todos eles, porque eles estarão muito ricos, nos comprarão e nós seremos escravos de um comando de quinta categoria.
Não consigo ser diferente. Gostaria de ser diferente, de ser cambalacheiro, de fazer por interesse. Não. O meu apartamento pertence ao PR, o meu partido, e o arrumei para isso, tanto que amanhã já tenho o primeiro jantar em casa. Tudo o que tinha de melhor da minha casa trouxe para o apartamento. E minha casa está lotada, porque, graças a Deus, trabalhei 40 anos para amealhar coisas. Eu nunca roubei nada de ninguém. E o apartamento hoje recebeu toalhas de renda do Nordeste, porque acredito no Brasil. Os convidados de amanhã jantarão numa mesa com coisas brasileiras e com uma comida feita por mim, porque, graças a Deus, aprendi a cozinhar com o meu pai. Faço de tudo um pouco e faço de tudo um pouco direito, porque tenho os meus recalques, os meus complexos e, se não fizer direito, realmente fico muito infeliz.
Mudando de assunto, outro dia, eu estava passando uma emenda a respeito do câncer de próstata, que é uma coisa dolorosa. E pretendo convidar para vir aqui o Dr. Miguel Srougi, que me operou, um dos 10 maiores médicos do mundo.
Debato-me todos os dias para que esta proposta seja feita para os pobres, porque o câncer de próstata é realmente muito mal. Mas o problema não é o câncer, o problema é a seqüela. Sei por que eu tive. Peguem um sujeito pobre, humilde, sem instrução e dêem a ele o câncer de próstata. Se ele se opera e acaba impotente, a casa dele virará um transtorno, porque, com certeza, a mulher agirá muito mal a essa impotência.
Vejam quanta coisa existe atrás de uma bobagem!
Outro dia eu me encontrei com um Deputado famosíssimo, que conheço há muito tempo, e disse a ele de minha proposta do câncer de próstata, e ele me disse: “Ah! Eu não preciso, não, eu tenho plano de saúde”. É um absurdo que um Deputado diga isso. Não vou dar o nome dele, porque jamais daria glória a uma pessoa dessa laia.
Todos os meus defeitos citados são defeitos impostos pelo universo. Nunca aprendi ou adquiri alguma coisa aqui para fazer mal para as pessoas. Não é essa a minha proposta.
Pergunto: Quantos brasileiros podem ter plano de saúde? Quase ninguém. Então, deixamos o povo à deriva, todos estamos muito felizes, lindos, com ternos lindos, muito bons, tudo lindo, Brasília é linda! Só vou sossegar no dia em que eu mudar Brasília mesmo, porque Brasília tem que brilhar, porque, se a Capital não brilha, o País não brilha. Podem se matar!
Vejam que cada vez que vamos a Paris, Paris está sempre em travaux. Todo o ano que fui a Paris, desde esses 40 anos, Paris está sempre consertada. Por quê? Porque casa, cidade é como boca, se não consertamos as cáries, os dentes caem.
Brasília está abandonada por uma falsa política de comando. Os prédios públicos estão todos caindo aos pedaços. Desmintam-me, ponham-me daqui para fora, digam que sou mentiroso, que sou ordinário, que sou desonesto e que odeio o meu povo, principalmente para as mulheres, mães de família que sabem que eu sempre batalhei por elas é que é o meu público. Digam para elas para ver o que vai acontecer.
Vou batalhar muito para a diminuição do número de Deputados. Muito! Com todas as forças que tenho no meu coração eu vou batalhar. Por quê? Porque não estou vendo ninguém sentado aqui, as pessoas comparecem quando querem. E no dia em que estive aqui, o Presidente — que não era o Deputado Inocêncio Oliveira, esta pessoa que eu adoro, era outra pessoa — mandou-me calar a boca quando eu disse que parecia um mercado de peixe. E parecia mesmo. Hoje em dia parece à entrada de um convento, porque está um silêncio, não temos nada, tudo está assim. (Risos.)
Então, isso tudo tem que mudar. Acredito nessas mudanças e que podemos agir.
Talvez o meu texto não seja o texto de um político de escola. Estou contratando um professor de política da USP, de São Paulo, para me dar aula de política, porque eu quero fazer o melhor. Eu não quero fazer por fazer. Eu quero passar por aqui para deixar, como o meu apartamento, como as minhas coisas, o melhor que eu puder.
Tem tanta coisa que poderia que gostaria de dizer, mas, infelizmente, eu me inflamo e pode ser que eu me prejudique e não quero me prejudicar.
Todas as vezes que fui mandado embora da televisão fui mandado embora porque trabalhei a favor dela. E aqui quero trabalhar a favor desta Casa. Não pensem que quero diminuir o número para prejudicar pessoas. Não! Pode ser que eu seja um deles, não tem importância. Quero que a Casa tenha dignidade. Isso é obrigatório. Todo mundo pode dizer o que quiser de mim, mas não pode dizer que eu não tenho dignidade e nem a cabeça em cima do pescoço. Nem meu pai pode, nem o diretor do meu colégio, nem ninguém que convive comigo. Eu faço questão de dizer que não vim para sujar a vida de ninguém.
Então, esse número precisa ser reduzido porque imaginem daqui a 10 anos um número maior, 600 e tantos Deputados, para um país com problemas econômicos. Aonde nós vamos parar, gente? Pensem um pouco. Tenham piedade do povo. Sejam abnegados. Não queiram para vocês. Não temos nada. Tudo que temos largaremos aqui. Eu não tenho nenhum problema de ter coisas, de comprar coisas, porque eu sei que eu vou deixar mesmo, tanto que eu brinco com os meus amigos: se eu cair morto aqui, pega este brilhante, que é bom. Você vai vender. Não é de ninguém. Tudo que eu tenho não é meu. E nós não temos nada nessa vida. Tudo que nós temos é passar para a mão dos outros aquilo que nos daria alegria de ver o mundo melhor.
Muito obrigado por terem me ouvido. Muito obrigado pela paciência. Tenham uma boa tarde e que o universo os abençoe, para que isto aqui fique uma Casa verde e amarela mesmo, com um BR bem grande. Eu gostaria muito, porque o Brasil é um país lindo. Nunca me senti caipira em lugar nenhum do mundo porque eu tenho honra de ser um bom brasileiro. Gostaria que isso fosse em todos os sentidos. Fiquem com Deus, se é que vocês chamam o universo de Deus, porque eu chamo. As igrejas novas têm deus de tantos nomes, e o deus não é desfragmentado. Deus é único e absoluto, porque a gente conversa conversando com a gente mesmo.
Até a próxima chance que me dêem de falar para vocês. Até logo. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Quero dar meus parabéns ao ilustre Deputado Clodovil Hernandes. S.Exa. não falou para o Plenário; S.Exa. falou para a Nação. Acho que a Câmara é isso. Estamos agora reunidos em várias Comissões importantes. A parte nobre da instituição, que é a votação, ainda não começou. Mais tarde, quando iniciarmos a votação dos destaques do Fundo Soberano, estaremos com o plenário cheio, decidindo essas matérias.
Enfim, mesmo com apenas 10, 12 Parlamentares em plenário, o Deputado na tribuna não fala apenas para S.Exas. Todos estão ouvindo em seus gabinetes ou em diferentes locais. O Deputado fala, sobretudo para a Nação, já que seu pronunciamento será divulgado no programa A Voz do Brasil e no Jornal da Câmara, além de ser transmitido ao vivo pela TV Câmara.
O Parlamento é isso. Ele não é apenas uma Casa que se reúne para discutir e debater diversos assuntos com o plenário cheio. Esta Casa tem de priorizar aquilo que é importante para o momento, deixando de lado o que não é tão importante.
Por isso não me constranjo quando vejo o plenário assim. Os Parlamentares esperam apenas a sua vez de usar da palavra, sabendo que falarão para os que estão presentes e, sobretudo, para a Casa e toda a Nação.

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