quinta-feira, 7 de agosto de 2008

JORNAL PROPAGANDA E MARKETING 21 DE JULHO DE 2008 por LULA VIEIRA

Não poderíamos deixar de transcrever aqui a matéria de opinião independente do grande publicitário Lula Vieira.
Jornal Propaganda e Marketing
21 de julho de 2008

CLODOVIL, MEU HERÓI
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Tudo lá e na base do nós vai, menos verbas mindingo, indentidade

Eu pensei que ia morrer antes de escrever o que escreverei a seguir. De todas as surpresas que eu poderia esperar neste País cheio delas, está é uma das que me causaram maior impacto.

Vou ter que elogiar a atuação parlamentar de Clodovil. Pronto.Escrevi.Pensei que não conseguiria, mas agora que já foi prossigamos.Não é que o nobre Deputado Clodovil Hernandes acaba de declarar ser a favor de diminuir o número de deputados federais dos atuais 300 e tantos para 250 ?Além de ser uma bela idéia já de saída, as razões apresentadas são por si só excelentes. Em primeiro lugar, diz o ilustre parlamentar que esse número já excede a média de legisladores que costumam aparecer no plenário.Aquilo só lota quando se trata de salvar algum cúmplice, desculpe, colega. Ele mesmo há algum tempo dizia se revoltar coma capacidade dos deputados de se entregarem à gazetice. Reclamou também do verdadeiro circo de cavalinhos que é uma sessão ordinária, com um deputado falando e ninguém ouvindo, nem mesmo o presidente que aproveita os discursos ininteligíveis para despachar com a secretária, tomar café ou trocar soros com assessores.

Do alto de sua preocupação com o decoro e os bons modos, Clodovil falou até da boa educação, no que eu concordo. No pinga-fogo os deputados parecem músicos de churrascaria. Ninguém ouve, ninguém presta atenção, ninguém aplaude. No mesmo dia em que propôs a redução do número de deputados, Clodovil também desancou os erros de português de seus pares. Segundo ele a maioria dos deputados se expressa por meio de atentados à decência vernacular, falando barbarismos de todos os tipos (ortoépicos, gráficos, gramaticais e semânticos). Tudo lá é na base do nós vai, menos verbas, mindingo, indentidade. Acho até que ele foi delicado.É pior muito pior.Assistindo à TV Câmara muitas vezes eu, depois de ouvir intermináveis discursos, fico sem entender o que o deputado quis dizer.Nem ao menos sobre o que falava.Sem contar a imensa perda de tempo que é o registro do aniversário de 37 anos de fundação do Município de Urucubaca da Serra, a "pérola do agreste", cuja história engrandece a própria história do Brasil.Ou o registro da morte do Cônego Porcíuncula de Almeida, digníssimo pároco de Maniçoba do Norte, que dedicou seus 65 anos de vida religiosa à imensa tarefa de aproximar os fiéis ao reino de Deus, para onde sua dulcíssima alma deve estar se encaminhando.Ou registrar que graças ao denodo do prefeito Funguilberto de Moraes, alcaide de Ribamar da Beira do Rio, próspero município agora conta com magnífica ponte, verdadeiro monumento à engenharia brasileira, que transpondo o Rio Pitangueiras permitirá o escoamento da produção de gabiroba, maior produto da região, para os grandes mercados do Brasil e seguramente do mundo.Pra fazer e falar tanta bobagem, eu acho que 100 deputados já é um bom número.Outra idéia muito boa é criar um número mínimo de votos para um cidadão poder tomar posse.Tem cara lá que teve menos de 500 votos e tem o mesmo poder de decidir do que aquele que chegou lá através do voto de milhões de eleitores.Se bem que Enéas, Maluf,Juruna, Cabelão, Narigudo e Seboso tiveram alguns milhões de votos e, nem por isso, podem ser considerados gênios da raça , exemplos de vida parlamentar ou pais da pátria.Mas enfim,chegaram lá levados por muita gente.Levei anos para entender o nosso sistema eleitoral e sei que o que importa e a quantidade de votos do partido.Mas daí a permitir que alguém com 100 míseros votinhos chegue a deputado, já é distorção da idéia.E pensar que estão na mão desses parlamentares mais de 500 projetos sobre propaganda!Clodovil meu nobre deputado. Ou melhor, Ilustre Deputado Clodovil Hernandes este pobre escriba declara-se arrependido de tudo o que escreveu e disse sobre Vossa Excelência quando decorou seu gabinete como motel, teve chiliques na fila do avião, seus muxoxos e suas ironias. Tal como o general de la Rovere no filme de Rosselini, Vossa Ilustrência resolveu ser herói. Parabéns !
Lula Vieira
Luiz Antônio Alves Vieira nasceu em São Paulo, Capital.
Em 1991, recebeu o título de Publicitário do Ano do Prêmio Colunistas Rio, título também conferido pela Associação Brasileira de Propaganda-ABP nos anos de 1998 e 2004.
Lula Vieira tem mais de 300 prêmios de propaganda, entre eles Festival da Cannes, Clio Awards, Festival de Nova York, Festival do Canadá, Prêmio Colunistas, Festival de Gramado, ABP e Profissionais do Ano da Rede Globo de Televisão.

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